terça-feira, 6 de outubro de 2009

Juremir Machado da Silva

Todas as terças-feiras, desperto as 5h. Saio da city fumageira e parto "pra capitar".
Café com leite e pão de queijo na Rodô. E um Correio do Povo embaixo do braço.
Mesmo que o jornal seja uma das aquisições da Igreja Universal, o jornalismo não tem nem comparação. Pior que Zero Hora, só a Veja mesmo.
A primeira coisa a fazer é ler a coluna de Juremir Machado da Silva.
Há quem goste de Luiz Fernando Veríssimo. Também curto. Mesmo assim, acho que ainda prefiro o Juremir. Tá, tá, tudo bem, não é só porque ele é Doutor em Sociologia. É porque mesmo sendo doutor em sociologia, o cara é engraçado pra caramba (nunca conheci um Doutor em Sociologia engraçado)... Ele fala de tudo que se imagina e mais um pouco, com um humor mais ácido que o xarope de ácido lático sabor framboesa que eu tô tomando...
Seu Juremir, um dia, quando eu crescer, quero ser assim como o senhor.
Desculpe Fernanda Young, mudei de ideia.


E para não dizer que tudo isso é retórica, um aperitivinho.


Todos iguais

Juro que foi assim. Em Paris, numa tarde de chuva, dois brasileiros se encontraram: um gaúcho e um paranaense. Ficaram naquele chove não molha durante alguns minutos. Depois, entraram numa disputa especial.

- Curitiba tem um planejamento urbano reconhecido mundialmente - exulta o paranaense, sorrindo muito.

- Porto Alegre tem um padrão de vida melhor. Sem contar que o nosso pôr do sol é o mais lindo do planeta.

- Não era da galáxia?

- Sem graça.

- Curitiba é muito mais organizada e limpa.

- As mulheres gaúchas são muito mais lindas.

- Faz mais frio em Curitiba. É mais alto - diz o paranaense, orgulhoso, com um tom altivo na voz.

- Pode até ser, mas o frio de Porto Alegre é mais úmido e por isso mesmo muito mais difícil de suportar - retruca o gaúcho, estufando o peito de tanta satisfação.

Chega um francês, amigo de um deles, puxa assunto e, depois de alguns mal-entendidos, entra no jogo:

- Paris é a capital do mundo - dispara.

- Não é mais - corrigiu o gaúcho. - É Nova Iorque.

- Pensei que era Porto Alegre - provoca o curitibano.

- Vai ser. Um dia. Já Curitiba não tem chance alguma.

- Paris é a mais bela cidade do mundo - diz o francês.

- Prefiro Londres - desdenha o gaúcho.

- Pensei que era Porto Alegre - implica o curitibano.

- Continuamos tendo o melhor futebol do mundo - delira o gaúcho, tentando ignorar a provocação do paranaense.

- Mas continuam subdesenvolvidos - alfineta o francês.

- Em desenvolvimento - corrige o curitibano.

- Somos um país emergente - emenda o gaúcho.

- Temos o pré-sal - exibe-se o curitibano.

- Por que então não viram uma potência? Continuam com uma enorme desigualdade social - cutuca o francês metido.

- É uma questão de governo. O Brasil tem, por exemplo, a maior carga tributária do mundo - justifica o gaúcho.

- Conversa fiada - diz o curitibano.

- Curitiba é a cidade mais chata do Brasil - fala o gaúcho, visivelmente aborrecido e pronto para briga.

- Porto Alegre é a cidade mais bairrista do planeta - encara o paranaense, bom de briga e de chateação.

- Não somos bairristas. Temos orgulho das nossas realizações. Afinal, temos uma história muito especial.

- Isso, que sirvam as façanhas de vocês de modelo a toda Terra. Que modéstia! Que humildade! Quanto equilíbrio!

O pau já ia comer quando apareceu um carioca.

- Estou chegando da Cidade Maravilhosa. Querem saber? O Rio continua lindo, dez, maneiro, espetacular...

- Tem muita miséria e favela no Rio - diz o francês.

- Carioca está sempre tentando levar vantagem - fulmina o gaúcho. - É um saco. Malandragem demais, cansa.

- O Rio é muito ruim em termos de planejamento urbano e de transportes públicos - começa a dizer o curitibano.

- Ah, não, de novo? Essas viúvas do Lerner são incansáveis, meu Deus! Será que nunca vão parar com isso?

- E vocês, me diga, quando vão parar de se gabar do que a natureza fez e acrescentar alguma coisa ao dom de Deus?

- Lá vem o paulista - interrompe o gaúcho.

Saíram todos à francesa. Amigos para sempre.

- À francesa, não, à inglesa - corrige o francês.

- À carioca - diz o paulista.

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